A morte de Deus pelo homem

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A morte de Deus pelo homem

Ao nascer, o homem  traz consigo o sentimento da existência de um bem maior, e nessa consciência intuitiva, ainda não influenciada pelas vertentes ideológicas dos meios em que convive, conserva o Divino puro como Ele é.
As deturpações da imagem do Criador vêm na medida em que as mãos do homem tecem as suposições da vontade divina, encaixando-as nas suas próprias necessidades e desejos, e quando não, nas suas fraquezas e desvios.
As instituições religiosas, enquanto organizações humanas que buscam congregar o homem com Deus, criam caminhos distintos da visão do homem em relação ao Divino, ao passo que as suas doutrinas interpretam a criação e o Criador de maneira diversa, e nessa diversidade, muitas das vezes o amor dá lugar ao ódio e a intolerância, que corroem a humanidade na alma e em seus valores.
O homem está matando Deus, não só de agora. Quando Jesus, na passagem bíblica Cristã (João: 2,13-22) expulsa os comerciantes do templo, asseverando que a casa do Pai não era um mercado, em efusiva revolta, Cristo levantou-se contra os vendilhões da fé, enquanto hoje muitos de nós assistimos pacientes e complacentes a venda da graça divina, do milagre e da “razão” em campanhas midiáticas diárias, que se tornaram comuns.
Estão matando Deus quando seitas pregam a submissão da mulher ao homem como se houvessem categorias distintas de ser humano, e quando, sob o mês mesmo pretexto matam, dilaceram e apedrejam outros humanos, iguais filhos da criação divina, pelo simples fato de suas opções sexuais.
Estão matando Deus, quando o fundamentalismo sufoca qualquer opção de convivência harmoniosa entre as crenças, quando obstam o bem em detrimento das divergências filosóficas.
Estão matando Deus quando imiscuem a religião e a política num mesmo contexto, tornando a segunda mecanismo de controle da primeira.
Talvez Nietzsche tenha matado Deus, não por Ele, mas pelo homem.

Apesar do título polêmico, Deus não morre, pois Deus é Deus, e o homem, sua criatura, mesmo com os equívocos e tentativas de tornar o Divino meio auxiliar dos seus desejos, não é eterno nos seus próprios erros.
Que se nasçam e renasçam os homens, para que a terra evolua com o evoluir dos seus passos.


Escrito por Armstrong Lemos, advogado com atuação no Maranhão, no ano de 2015.